segunda-feira, abril 13, 2009

O nosso Ténis vive uma vida nova. Estamos preparados para aproveitar?

Os resultados internacionais de alguns dos nossos melhores atletas veio dar mais ênfase a um sentimento que me tem acompanhado nos últimos tempos: podemos estar a passar por um momento de viragem no nosso ténis. Por pura coincidência, no dia que escrevo esta crónica, o Frederico Gil faz mais um resultado histórico para o nosso ténis ao atingir a ½ final do ATP de Joanesburgo.

Penso que Portugal nunca esteve numa posição tão promissora. Para além daqueles que já se afirmaram e dos quais ainda esperamos melhores feitos, como Frederico Gil, Leonardo Tavares ou Rui Machado, temos duas das grandes promessas do ténis mundial: Gastão e Michell. Para além destes, ainda contamos com talentos como João Sousa, Pedro Sousa, Francisco Dias, Miguel Almeida ou Martin Trueva. Se falarmos dos mais novos, poderemos citar o nome de muitos jovens talentosos que bem conheço e com quem tenho tido o privilégio de trabalhar nas selecções nacionais ao longo dos últimos anos, como Barbara Luz., Francisco Ramos, Patrícia Martins, Joana Vale Costa, Maria João Koeller, Vasco Mensurado, Frederico Silva ou Gonçalo Loureiro, para citar apenas alguns. Todos eles já deram provas do seu valor a nível internacional.
Podemos assistir, nos próximos tempos, a um "boom" da modalidade em Portugal caso algum (ou alguns) destes talentos se confirmem como grandes campeões da modalidade. O nascimento de um "estrela" trás inúmeras vantagens para a modalidade decorrentes, logicamente, do enorme mediatismo a que fica sujeita. Esse mediatismo tem como consequência mais investimento por parte das empresas e mais alunos nas nossas escolas de ténis. Para além destas vantagens, existe uma que não é tão visível, mas que é essencial para a criação de novos valores para o futuro: passamos a ter um referencial de sucesso, essencial para a auto-confiança dos nossos atletas, pais e treinadores.

Antes de mais é preciso acreditar. E não é fácil acreditar em Portugal! Temos de lutar contra um historial sem muito sucesso e, mais difícil ainda, contra uma forma de estar de muitos dos que envolvem a modalidade, negativista e pouco estimulante para aqueles que diariamente treinam e competem para chegar o mais longe possível. Valorizamos pouco os nossos feitos e temos tendência para nos auto-flagelar com os resultados menos positivos. Muitas vezes elevamos demasiado as expectativas, criando pressão sobre os nossos jovens e deixamos de nos focar naquilo que é essencial: o seu desenvolvimento como jogadores. Pior ainda, é frequente assistirmos a jogadores que passaram ao lado de uma promissora carreira porque o seu processo de desenvolvimento foi hipotecado pela ânsia de resultados imediatos e pela pressão em alcançá-los. Infelizmente, tão depressa temos um "grande campeão" como, às primeiras dificuldades, dizemos que temos mais um "talento perdido". Não nos podemos esquecer que a carreira de qualquer jogador passa por momentos de sucesso e por períodos difíceis, muitas vezes acompanhados de derrotas sucessivas e resultados aquém do esperado. Só aqueles que conseguem ultrapassar estes momentos, podem triunfar. É preciso acreditar, definir o rumo a seguir e não vacilar perante as dificuldades.

Espero que os nossos jovens talentos "acreditem" e que em breve possamos comemorar a presença de jogadores portugueses entre os melhores do Mundo, e que todos os agentes da modalidade aproveitem essa oportunidade para desenvolver o ténis em Portugal. Quando falo em desenvolver, refiro-me concretamente ao desenvolvimento estrutural, sustentado em projectos que visem criar bases para a formação de novos valores nas gerações seguintes e que passa essencialmente por um projecto de formação de jogadores, pela certificação dos clubes, pela formação de técnicos e dirigentes, pela angariação de novos parceiros/sponsors para a modalidade e pela criação de condições de excelência para o alto-rendimento.

Pedro Felner

pfelner@hotmail.com
pfelner@esdrm.pt