terça-feira, setembro 25, 2007

A Lateralidade



Este é um factor que já tinha estudado na Faculdade, mas apenas me chamou a atenção pela primeira vez no simpósio europeu em 2004 (Malta, St Andrews), através de uma apresentação de um estudo especificamente sobre o tema. No entanto, com tantos factores integrantes nas análises, foi algo que não teria dado a devida importância se não tivesse ouvido uma nova apresentação brilhante sobre o tema por parte do Jofre Porta e do Pedro Zierof (da Global tennis em Palma de Mallorca) no último simpósio em Valência realizado em Março deste ano (2007). Todos nós temos um olho dominante, ou seja, um olho director. Quando olhamos para qualquer objecto, um dos olhos é o principal na visualização do objecto em causa, sendo que o outro é responsável pela noção de distância dando uma ideia tridimensional ao mesmo. Vamos tomar como exemplo o facto do olho dominante ser o direito, e o olho tridimensional (chamá-lo-emos assim) ser o esquerdo. Se taparem o olho esquerdo, deixarão de ter a noção de profundidade com tanta precisão, e se taparem o direito, perdem confiança na avaliação da velocidade dos objectos. De que forma é que isto nos afecta nos batimentos?
É normal em qualquer jogador querer ver a bola com o olho dominante. Esse olho vai estar relacionado com a sua posição para bater a bola, e irá consequentemente afectar a sua biomecânica gestual em todos os batimentos. Se tomarmos como exemplo dois jogadores dextros com olhos directores distintos, aquele que tiver o olho director direito, terá sempre uma posição mais frontal para realizar o batimento de direita e de serviço (por exemplo) do que aquele que tiver como olho director o esquerdo, como pode ser visto nas figuras em baixo apresentadas.



Isso fará com que o primeiro tenha um percurso de aceleração da raquete inferior nestes batimentos específicos, perdendo assim alguma velocidade da cabeça da raquete no instante de impacto. Por outro lado, o jogador com o olho direito dominante terá maior tendência em bater a bola em posição aberta (open stance) ou semi-aberta. Este tipo de raciocínio acontece em relação a todos os batimentos. O mesmo jogador que terá uma posição mais aberta de direita, terá tendência a ter uma posição mais fechada de esquerda, ganhando assim mais amplitude no movimento do lado contrário.
Quando falamos de lateralidade não falamos apenas dos olhos. Todo o nosso corpo tem um lado dominante que não é necessariamente o mesmo. Quem já fez algum desporto que envolva uma prancha, tal como snowboard, surf, wakeboard ou skate, sabe que temos um pé que nos dá mais jeito ter à frente. Essa é a nossa perna dominante. Isso acontece também para as nossas ancas (geralmente a mesma da nossa perna), e para o nosso ombro. Todos estes factores não são obrigatoriamente do mesmo lado. A conjugação dos mesmo provoca diferenças biomecânicas nas estratégias para gerar potência, e se queremos tirar o máximo das potencialidades de um atleta, devemos levar estes aspectos em consideração. Como sabemos, a perna e ancas mais importantes na geração de potência num movimento de direita em semi-open ou open stance, é a perna do lado da raquete. Se esta não for a dominante no atleta, a ligação entre membros inferiores e superiores nunca será das melhores naquele tipo de movimento. Se estivermos a trabalhar com um miúdo em fase precoce de desenvolvimento, então poderemos ainda tentar desenvolver as capacidades necessárias na perna mais fraca, ao passo que se tivermos a trabalhar com um júnior último ano ou sénior de alto rendimento, o melhor será optimizarmos as características dele, de modo a retirar o máximo de rendimento das mesmas.
A conjugação entre olho dominante e braço dominante faz alterar as características psicológicas do atleta relacionadas com a sua personalidade. Geralmente quando ambos stão do mesmo lado, a pessoa em causa tem tendência para ter uma visão melhor de objectivos a longo prazo, ao passo que alguém que seja cruzado, ou seja, o olho dominante está do lado contrário do braço dominante, tem tendência a ser mais criativo, mas tem dificuldade em encarar objectivos a longo prazo.

César Coutinho
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