domingo, janeiro 14, 2007

Iniciação Precoce...Sim. Especialização Precoce...Não.



À medida que as novas tecnologias, a densidade urbana das nossas cidades e a insegurança vão tomando conta do dia-a-dia das crianças, torna-se cada vez mais necessário pensarmos de que forma adaptar a prática desportiva, e nomeadamente a formação com vista ao alto-rendimento, a esta realidade.

Num passado recente os treinadores não tinham que se preocupar em ensinar uma criança a correr ou a saltar. Estas capacidades eram desenvolvidas de forma autónoma pelas crianças, na maioria das vezes, nos jogos de rua realizados com os amigos.

Actualmente, são poucas as que têm acesso a este tipo de prática, principalmente nos grandes centros urbanos. Para dificultar ainda mais a tarefa dos técnicos nos clubes, a Educação Física no 1º Ciclo não é uma realidade em muitas Escolas. Os jogos de computador, consolas e outro tipo de diversões que promovem o sedentarismo, também são cada vez mais populares entre as crianças.

Hoje em dia, nos clubes de ténis, os treinadores não têm apenas que se preocupar em ensinar princípios técnicos e tácticos da modalidade. Muitas vezes têm que ensinar habilidades básicas como correr, saltar, rodar, lançar, etc…

Se trabalhamos com um jovem talento e pretendemos desenvolver um trabalho de base sólido, devemos procurar saber quais as rotinas de actividade física da criança. Devemos certificarmo-nos de que ela, no seu dia-a-dia, tem acesso a uma actividade diversificada que lhe permita potenciar todas as capacidades físicas e coordenativas.
Se tem acesso à Educação Física na escola, se joga futebol com amigos, se é uma criança activa e com espaço para “brincar” e se pratica ou praticou várias modalidades desportivas, este trabalho poderá estar garantido. Caso contrário, devemos aconselhar os pais a inscrever a criança em actividades paralelas ao ténis, que permitam desenvolver estas capacidades (futebol, natação, karaté, basquetebol, entre outras).

Não nos podemos esquecer que existem períodos sensíveis para desenvolver determinadas capacidades físicas e motoras e que, algumas delas, se não forem adquiridas no momento certo, dificilmente o poderão ser no futuro!

Devemos evitar a especialização precoce, ou seja, a repetição exaustiva das mesmas acções motoras. É um erro colocar uma criança com 9,10 ou 11 anos apenas a jogar ténis. Não devemos especializar a criança em determinados padrões motores. Esta especialização promove o sucesso a curto prazo mas hipoteca o futuro do jogador. Quantas vezes temos assistido a jovens jogadores que conseguem resultados nos escalões juvenis e depois desaparecem!

No entanto, não devemos confundir iniciação precoce com especialização precoce. Para se atingir o alto rendimento desportivo defendemos a primeira, mas condenamos a segunda. Ou seja, a criança deve iniciar a prática da modalidade muito cedo (5/6 anos) mas deve especializar-se o mais tarde possível.

Não acreditamos que o tenista profissional de sucesso, se diferencie dos outros jogadores porque “bateu” mais direitas, esquerdas ou serviços quando era criança. É lógico que treinaram muito, e desde muito cedo. Mas também sabemos que há muitos a treinar muito, e desde muito cedo... Não nos parece que este seja o factor que diferencia os jogadores a médio-longo prazo.


Pedro Felner