O MERCADO DE TRABALHO E A CARREIRA DE TREINADOR DE TÉNIS

1- Introdução

Ao longo dos últimos anos tenho tido o privilégio de trabalhar no ténis em diferentes áreas e, consequentemente, tenho tido a possibilidade de observar o mercado de trabalho e a realidade dos treinadores de ténis sobre diferentes perspectivas: como formador de técnicos, enquanto professor do ensino superior, como treinador e como director técnico de dois clubes, um direccionado para a formação/competição e outro para a área do lazer.
A observação de diferentes realidades (e necessidades…) serviu de base para um trabalho que apresentei na 2ª Conferencia Internacional de Economia e Gestão do Desporto, em Rio Maior, no passado mês de Março. O objectivo era falar sobre o mercado de trabalho no ténis e sobre o futuro da carreira de treinador de ténis em Portugal. Aqui ficam alguns excertos dessa apresentação.




2 - Áreas de Intervenção dos Treinadores de Ténis

Em termos de mercado de trabalho no ténis, podemos definir, de forma sintética, três áreas de intervenção:

1- Ténis de Formação: crianças e jovens
2- Ténis de Lazer: condição física, adultos, turismo
3- Ténis de Rendimento: competição e alta-competição





3- Objectivos

Cada uma das três áreas atrás mencionadas, persegue objectivos diferenciados. Abaixo indico alguns dos objectivos e do trabalho a realizar em cada uma das 3 áreas de intervenção.


Ténis de Formação
- Motivar para a prática da modalidade;
- Formação pessoal de crianças e jovens (regras, valores, etc..);

- Formação técnica, táctica, física e mental de base;
- Iniciação à prática competitiva;
- Desenvolver projectos relacionados com a promoção e divulgação da modalidade;
- Detecção de talentos.


Ténis de Rendimento
- Formação de atletas com vista ao alto rendimento desportivo;
- Acompanhamento de atletas profissionais;
- Selecções Nacionais;
- Desenvolver projectos relacionados com o ténis de rendimento (em Clubes, Associações Regionais ou Federação).


Ténis de Lazer
- Promoção da condição física e saúde;
- Animação desportiva e turismo;
- Aulas para adultos;
- Desenvolvimento de projectos relacionados com o mercado do lazer (clínicas de ténis, férias desportivas, torneios sociais, promoção de estilos de vida saudável, etc.)



4 – Competências dos Treinadores

Deste modo, se diferentes áreas perseguem objectivos tão diferenciados, também as competências que se devem exigir aos treinadores devem ser diferentes em cada uma delas.
Em baixo, procura-se discriminar alguns exemplos e mostrar como a importância de diferentes competências pode variar em função do trabalho que cada técnico realiza. Os valores têm um carácter subjectivo e servem apenas de referência.


Competências no Ténis de Formação:
- Experiência como jogador e/ou experiência continuada com a modalidade - 1
- Habilidades Pedagógicas - 3
- Conhecimentos profundos na área do treino - 2


Competências no Ténis de Rendimento:
- Experiência como jogador e/ou experiência continuada com a modalidade - 3
- Habilidades Pedagógicas - 1
- Conhecimentos profundos na área do treino – 3


Competências no Ténis de Lazer:
- Experiência como jogador e/ou experiência continuada com a modalidade - 2
- Habilidades Pedagógicas - 2
- Conhecimentos profundos na área do treino – 2

LEGENDA:

1 – Relativamente Importante
2 – Importante
3 – Muito Importante



5 - Conclusão

Na prática, a grande maioria dos treinadores de ténis em Portugal trabalham na área da formação e do lazer. No entanto, todo o processo de formação é direccionado para o desenvolvimento de competências na área do rendimento. A nível federativo, por exemplo, em Portugal e na maioria dos outros países, quanto mais cursos federativos o treinador obtiver (nível I, II e III), mais habilitado está para treinar atletas de nível superior. Esta situação não vai ao encontro das necessidades do mercado e não promove o desenvolvimento de competências específicas em áreas essenciais para o desenvolvimento da modalidade. A formação de treinadores não deve estar associada à ideia de que o trabalho com competição/alta-competição equivalem ao “topo de carreira”.

Pedro Felner
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