terça-feira, outubro 17, 2006

A importância do pé de trás na execução do serviço

Quando analisamos tecnicamente os nossos jogadores, há muitas vezes tendência para nos concentrarmos demasiado nas questões finais, ou seja, mais perto do instante de contacto com a bola, visto que estes factores, de um modo geral, são mais observáveis e parecem estar mais relacionados com o rendimento do gesto técnico. No entanto, quando falamos de análise técnica (biomecânica), temos de ter em atenção que quase todas as acções têm outras que as precedem, e que têm directa influência na qualidade e resultado das acções seguintes.
Hoje gostava de focar um aspecto que na minha opinião, é uma questão muito simples de ser trabalhada, mas que está longe de ser optimizada nos movimentos de serviço de atletas de todas as idades que tenho observado nos diversos torneios, tanto em Portugal como no estrangeiro – a colocação do pé de trás no movimento de serviço.
De um modo geral os jogadores podem usar dois tipos de técnicas quanto à posição dos pés na fase preparatória do serviço – Técnica com o pé atrás ou aproximação do pé de trás ao pé da frente (foot-back e foot-up respectivamente). Neste momento alguns jogadores estão a adoptar uma posição de início intermédia entre as duas (Roddick). Qualquer que seja a forma usada, o pé de trás tem de desempenhar um papel importante no desenvolvimento da velocidade vertical, ou seja, da impulsão (Elliott & Wood, 1983). Elliott & Wood (1983) verificaram que a técnica de aproximação dos dois pés produz maiores forças verticais de reacção ao solo, o que provoca um ponto de batimento um pouco mais alto relativamente à técnica com o pé atrás. Por outro lado, o facto de haver mais forças verticais vai fazer com que haja um maior aproveitamento da energia elástica ao nível do tronco e dos membros superiores. No entanto, sabemos que a técnica com o pé atrás dá uma maior estabilidade, facilitando ao atleta uma execução correcta de todos os outros factores relacionados com o tronco e com os membros superiores. Qualquer que seja a estratégia usada, devemos assegurar que a perna de trás produz energia contra o solo na fase de impulsão, visto que esta mesma energia irá provocar não só um ponto de impacto mais elevado, como também um maior aproveitamento do movimento de rotação interna do braço que é um dos principais responsáveis pela aceleração do serviço.
O uso da perna de trás, provoca a seguinte reacção em cadeia:
Força exercida na perna de trás = maior elevação global do corpo = elevação da anca de trás = elevação do ombro da raquete = maior participação do movimento de rotação interna do braço = maior velocidade de bola.
O uso não adequado da respectiva perna tem o seguinte efeito:
Não elevação da anca direita = não elevação do ombro direito = menor participação do movimento de rotação interna do braço = maior carga exercida na articulação do ombro e do cotovelo = menor rendimento no serviço e maior probabilidade de lesões no ombro e no cotovelo a médio e longo prazo.
De referir que quando há um avanço deste mesmo pé para junto do da frente (técnica foot-up), a linha formada pelos calcanhares dos dois pés deve estar direccionada para o campo do adversário, de modo a que as acções realizadas ao nível do tronco e membros superiores apresentem a maior eficácia possível. Por outro lado, se não houver esta posição dos pés, a transferência de energia dos membros inferiores para os superiores, não será a melhor.
De acordo com as considerações acima apresentadas, a técnica que escolherem, terá de estar adaptada às características do jogador e à fase de desenvolvimento em que se encontra no que se refere à aprendizagem e evolução do gesto técnico. No entanto, qualquer que seja a situação, o pé de trás tem de exercer força contra o solo na fase de impulsão de modo a rentabilizar todo o movimento de serviço.



César Coutinho

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