sexta-feira, novembro 10, 2006

O perfil do treinador do Futuro

No simpósio Mundial de treinadores de ténis, realizado na Turquia em 2005, o tema principal foi “Qualidade de Treino para o Futuro…já!”. Dentro deste tema, o principal factor referenciado pelos melhores especialistas a nível mundial, foi o perfil dos treinadores. Luís Bruguera, no simpósio Europeu de Treinadores 2004 realizado em Malta, referiu como uma das principais características de sucesso do ténis espanhol, o facto de haver muitos treinadores ambiciosos que querem ser treinadores no circuito profissional, o que faz com que haja um maior acompanhamento dos jogadores, e uma vontade de aprendizagem superior, aparecendo naturalmente o sucesso desportivo com cerca de 12 jogadores no Top 100 ATP e 21 jogadores no Top 200.
Todos os principais prelectores referiram a importância de haver um programa de detecção de talentos de treinadores a par de um programa de detecção de talentos de jogadores. A estes, é necessário criar condições de desenvolvimento, possibilitando experiências internacionais e dando possibilidade de formação de modo a atingirem o seu máximo potencial (jogadores e treinadores). De facto, não é possível criar jogadores se não tivermos treinadores capazes de o fazer e com tanta vontade de serem treinadores de alto rendimento quanta a vontade dos jogadores em atingirem um determinado nível de performance. É necessário ligar os jogadores de maior talento, aos treinadores de maior talento, experiência e conhecimento de modo a obter os melhores resultados. Se esta ligação ficar ao acaso, os resultados também só aparecerão por acaso.
Segundo Miguel Crespo (2005), actualmente os treinadores têm de ter conhecimento em diversas áreas do treino:
- Conhecimento do jogo
- Saber jogar a determinado nível
- Prevenção de Lesões
- Gestão de risco
- Desenvolvimento, aprendizagem e crescimento humano
- Treino, preparação física e nutrição
- Aspectos sociais e psicológicos do treino e da competição
- Técnica, táctica e estratégia
- Administração e Gestão
- Preparação pessoal e promoção (Marketing, relações públicas, etc.)

O treinador tem de estar tão comprometido como o jogador num projecto para que haja resultados. Os dois têm perfis diferentes, como foi referido por Carl-Axel e Stefan Edberg recentemente na Suécia, mas têm de estar comprometidos num projecto comum.
- Treinador – trabalho árduo, viagens, liderança, experiência, capacidades técnicas e conhecimento
- Jogador – 110% comprometido, treinar com intensidade, capacidade para aprender (ouvir e tentar aplicar)

Tanto Javier Duarte no simpósio espanhol realizado no fim-de-semana passado, como o Frank Slezak (director técnico da República Checa e treinador ITF) no simpósio Europeu realizado em Outubro deste ano referiram que acreditam mais em projectos individuais apoiados em estruturas de competição, do que apenas nas estruturas em si. Referiram inúmeros exemplos de sucesso no circuito que são baseados neste tipo de estrutura móvel, aproveitando o que de melhor se faz em cada ponto do mundo, quando se enquadra adequadamente na evolução do atleta. Isto torna-se mais relevante quando falamos de ténis feminino, no entanto, é vital em ambos os géneros. Olhemos para os exemplos de top internacional e verificamos que há sempre alguém bastante perto do jogador que orientou o processo de perto, com uma relação pessoal e profissional forte com o atleta, em todos os períodos do seu desenvolvimento até atingir uma base de sucesso internacional – Ferrero, Kuerten, Sampras, Federer, Henin, Sharapova, Williams, Mauresmo, Nadal, etc…
Quando entramos num projecto individual mais ambicioso, temos de estar preparados para viajar tanto como o atleta, passar o mesmo número de horas que o atleta no campo, mais muitas outras horas em planificação. Temos de nos manter actualizados do que melhor se faz a nível internacional, e de quais os diversos caminhos para o sucesso, e acima de tudo, acreditar nas capacidades do/a atleta em questão. Um dos factores referidos pelos atletas de top como sendo determinante para o sucesso que conseguiram atingir, e que lhes ajudou bastante a atingir o topo foi o facto do treinador deles na altura acreditar que eles poderiam conseguir...
Uma das preocupações da ITF expressa na Turquia, é o facto de haver cada vez menos treinadores a nível mundial a quererem desempenhar um papel de entrega necessário ao sucesso do atleta, o que tem como consequência uma natural diminuição do número de atletas...será esse um dos problemas do nosso país??...


César Coutinho
Site: www.cesarcoutinho.com
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