O DESENVOLVIMENTO DOS PADRÕES BIOMECÂNICOS
Ao longo do desenvolvimento de um jogador, há diversas fases que devem ser respeitadas de modo a podermos atingir a melhor eficácia possível nos diversos gestos técnicos que caracterizam a nossa modalidade. Este desenvolvimento não pode ser dissociado do desenvolvimento maturacional (físico e psicológico), bem como de todo um trabalho de suporte físico que deve ser realizado de modo a acompanhar os padrões que queremos desenvolver num atleta. Este desenvolvimento conjugado de todos os factores em simultâneo, aproveitando os períodos críticos para o desenvolvimento dos mesmos, faz com que o atleta chegue à idade adulta com um elevado grau de eficiência neste determinado aspecto do seu jogo. Por vezes há a tendência para tentar realizar determinadas alterações técnicas, sem que haja o suporte físico para as mesmas, o que geralmente resulta num recuo automático na aprendizagem (o atleta não se sentirá confiante a executar a alteração por falta de força em algum dos grupos musculares e defende-se voltando àquilo que fazia antes) ou em lesão. A alteração de padrões técnicos (biomecâncos) tem de ser acompanhada de adaptações na estrutura morfológica de modo a criar as bases de suporte para o seu desenvolvimento sustentado. Se pensarmos no exterior de um smart com um motor de um Ferrari, ou num chassis de um Ferrari com um motor de smart, constatamos que nem um nem outro funcionarão correctamente.
Ao executar-mos uma análise técnica de um jovem atleta, tendo em vista uma intervenção que provoque melhorias, devemos ter em conta os seguintes factores:
- As características morfológicas da pessoa em causa
- O nível de preparação física que detém;
- O passado em termos de repetição de padrões
- A idade biológica do atleta em causa
- O olho dominante (explicarei isto no meu próximo artigo)
- As características psicológicas
- Os objectivos do atleta a médio e longo prazo
Vamos tomar como exemplo o batimento de direita em topspin. De um modo geral, em todos os batimento ou gestos técnicos no ténis (e não só), devemos usar uma lógica próximo-distal relativamente à raquete, que neste caso significa que devemos concentrar-nos com os factores que estão mais perto da raquete e da fase principal dos batimentos que estamos a tentar desenvolver. De facto, não devemos estar a referir factores que estejam associados aos membros inferiores, tais como a flexão de pernas, quando o jogador ainda não consegue controlar o ponto de batimento e a direcção da bola, por exemplo. Assim sendo, a ordem de prioridades que aconselho no movimento de direita é:
1 – Pega de direita clássica como referência – exercícios de modo a criar à vontade com essa pega e perceber a noção de batimento. A pega pode vir a fechar posteriormente, mas não devemos deixar ultrapassar aquilo que é o limite da mesma
2 – ponto de batimento com o cotovelo perto do corpo e pulso em extensão (braço sem tensão). O antebraço deve estar semi-flectido e o cotovelo por trás do pulso relativamente à linha de batimento
3 – trajectória da fase principal de baixo para a frente e controlo na colocação da bola
4 – iniciar a aprendizagem apanhando no início da descida e preferencialmente com bolas que no seu ressalto não ultrapassem a altura do ombro
5 – Apontar com o outro braço para a bola – dá-nos a noção de onde devemos bater a bola (local em que está a outra mão) e aumenta a nossa lateralidade, logo, o percurso da raquete até à bola. Aumenta o equilíbrio, mantendo o centro de gravidade numa zona mais central
6 – preparação em looping – faz aumentar o percurso de aceleração e aproveita-se as características inerciais da raquete relativamente à preparação directa
7 – Terminação com pronação do antebraço de modo a haver uma maior percentagem de bolas dentro e diminuir a tensão muscular em determinadas zonas do antebraço e do pulso, diminuindo o risco de lesões
8 – Afastamento das pernas aumentando a base de sustentação de modo a potenciar o equilíbrio
9 – Uso das propriedades elásticas e do reflexo miotáctico da musculatura do tronco em ciclo muscular alongamento-encurtamento de modo a aumentar a potência e a confiança no movimento balístico
10 – Flexão/extensão dos membros inferiores e sua ligação ao membro superior dominante através da transferência de energia através do tronco – daí a importância do fortalecimento muscular de todas as estruturas centrais
11 – Trabalho das diferentes estratégias de batimento da direita (fechado, aberto, semi-fechado, etc), mantendo os níveis de coordenação do atleta e dando poucos mas bons feedbacks
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